Jovem Transformador Ashoka é selecionado para projeto que reconstitui a expedição de Charles Darwin

No Darwin200, Vitor Zanelatto está desenvolvendo projetos de conservação e pesquisa sobre a avifauna na Patagônia 

Veleiro Oosterschelde navegando
Fonte: Divulgação/Darwin200

Em 1831, o jovem Charles Darwin, então com 22 anos, subiu a bordo do veleiro HMS Beagle em uma expedição que duraria quase cinco anos, gerando registros cartográficos, catalogando a fauna e flora de diversas partes do mundo e construindo as bases para, mais tarde, desenvolver a Teoria da Evolução. Quase 200 anos depois, a iniciativa Darwin200 convoca jovens a embarcarem em uma viagem para reconstituir o trajeto do naturalista e desenvolver projetos de conservação ambiental.

Um dos selecionados é Vitor Zanelatto, de 21 anos, que está passando sete dias a bordo do centenário veleiro Oosterschelde junto a outros jovens do Brasil, Argentina e Reino Unido. Ao longo dos dois anos de expedição, que iniciou em Agosto de 2023 e vai até Julho de 2025, um dos objetivos é proporcionar a experiência da pesquisa e conservação sobre a biodiversidade a 200 jovens pesquisadores de todo o mundo. Eles embarcam em pequenos grupos em cada um dos portos visitados por Darwin, recriando sua rota enquanto investigam as transformações nos ecossistemas e se fortalecem para impulsionar mudanças globais nas próximas décadas.

Até o momento, a expedição passou por países da Europa, África, pelo Brasil (em Fernando de Noronha, Salvador e Rio de Janeiro) e Uruguai, e agora Vitor embarcou na última terça-feira (12/12/2023), em Puerto Madryn, na Patagônia argentina, onde vai se conectar com uma pesquisadora local para estudar as relações entre humanos e a avifauna. “Vou identificar algumas espécies de corujas e compreender o papel que elas desempenham em áreas de agricultura, que passam pela interferência humana”, explica Vitor. “Quando falamos sobre as interações entre humanos e o ambiente, somos imediatamente levados a pensar apenas nos impactos negativos. Mas existe também este movimento de olhar para populações como os povos indígenas e pequenos produtores rurais e identificar os efeitos positivos que os humanos podem ter, mostrando que é possível promover uma convivência harmônica entre as pessoas, a fauna e a flora".

Vitor nasceu em Atalanta, comunidade agrícola em Santa Catarina com pouco mais de 3 mil habitantes, e hoje vive em Florianópolis, onde estuda Ciências Biológicas na Universidade Federal de Santa Catarina. Em 2019, foi reconhecido como Jovem Transformador Ashoka por promover ações de mobilização dos jovens de sua comunidade em prol da conservação e restauração da paisagem natural. Para ele, “é muito especial participar desta expedição e conseguir imaginar e vivenciar um pouco das descobertas do naturalista, Charles Darwin”.

Segundo Vitor, Darwin200 é fonte de inspiração para quem participa e quem acompanha a expedição, pois conecta milhares de jovens e cria condições para que se percebam pessoas capazes de incidir positivamente nos sistemas biológicos onde vivem e trabalham. “A expedição, que passa por uma diversidade de sistemas biológicos, tem por princípio conectar pessoas com várias vivências culturais e graus de experiência em pesquisa, mostrando que todas podem contribuir de acordo com suas áreas de interesse e habilidades para a conservação ambiental". Além disso, a iniciativa engaja um público amplo em cada porto por meio de desafios, atividades interativas, produção de conteúdo e conversas públicas para disseminar os achados e pretende chegar a 200 milhões de estudantes.

Vitor espera poder compartilhar o resultado de sua pesquisa com a população da Patagônia e cativar outros públicos com os achados da tripulação envolvida nesta etapa da viagem. "O compromisso com a conservação vai além do entendimento dos problemas ambientais. É essencial reconhecer que as pessoas são integrantes desse vasto sistema vivo," diz Vitor. "É um sistema interdependente e, portanto, a abordagem efetiva das crises ambientais requer uma conexão consciente com tudo o que nos cerca. Esta expedição desafia a visão antropocêntrica, enfatizando a importância de nos compreendermos natureza para enfrentar as grandes crises ambientais que já fazem parte de nosso cotidiano."