Inovar no Turismo pensando de forma sustentável

A próxima viagem pode ser uma grande oportunidade de mergulhar em um mundo seguro, saudável e em equilíbrio com a natureza, respeitando e valorizando as diversas comunidades e saberes.
Foto Turismo Sustentável Abrolhos
Fonte: Fernando Moraes/Arquivo ICMBio

E, de repente, no meio do isolamento social, quem não lembra daquela viagem maravilhosa que fez, ou daquele lugar delicioso onde esteve (e gostaria de estar nesse momento)? Surge uma louca vontade de conhecer novos destinos, sair da rotina e descansar. E, com isso, também surge a oportunidade de olhar para a próxima viagem como a possibilidade de mergulhar em um mundo seguro, saudável, em equilíbrio com a natureza, respeitando e valorizando as diversas comunidades e saberes. 

Não podemos esquecer que a esperança move as pessoas em tempos difíceis e esse tipo de plano sobre a viagem que ainda precisamos fazer pode nos dar energia para superar o cotidiano.

Talvez, a viagem que faremos daqui seis meses já seja muito diferente daquela que planejamos seis meses atrás. Por que nós mudamos? Sim. Mas também porque a forma de conhecer outros lugares também tende a mudar. Drasticamente.

Fazer uma viagem sustentável é o desafio dos nossos tempos. Como é possível viajar e contribuir ao mesmo tempo para o desenvolvimento sustentável?

A Organização Mundial do Turismo (OMT) respondeu essa questão no relatório Turismo para o Desenvolvimento (2018). Em artigo sobre o documento, Leila Mead mostra como o turismo pode impactar diretamente os 17 Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS). Aqui, cabe destacarmos que os ODSs possuem importante conexão entre si, ao mesmo tempo que cada um deles possui relevância própria:

  • ODS 1 (erradicação da pobreza): o turismo pode ser vinculado às estratégias nacionais de redução da pobreza e ao empreendedorismo por meio da flexibilização da exigência de habilidades e recrutamento local;

  • ODS 2 (fome zero): o turismo pode estimular a agricultura sustentável, integrando a produção local ao abastecimento de hotéis e vendas;

  • ODS 3 (saúde e bem-estar): a receita tributária gerada pelas taxas de turismo e visitantes coletadas em áreas protegidas pode ser reinvestida em serviços de saúde e ações que promovam o bem-estar e a qualidade de vida da comunidade local;

  • ODS 4 (educação de qualidade): é necessário assegurar o direito à educação de qualidade para todas regiões, comunidades, gêneros e gerações. Uma educação que desenvolva também capacidades e habilidades, garantindo que o setor de turismo possa prosperar – e, com isso, oferecer oportunidades de emprego para jovens, mulheres e pessoas com necessidades especiais (algo que se relaciona também de forma importante com os ODS 1 e 8, demonstrando para nós a conexão entre os objetivos e a força do turismo em relação a todo um conjunto dessa perspectiva sustentável de desenvolvimento);

  • ODS 5 (igualdade de gênero): o turismo pode capacitar as mulheres, principalmente por meio da provisão de empregos diretos e geração de renda em empresas relacionadas ao turismo e à hospitalidade;

  • ODS 6 (água potável e saneamento): o requisito de investimento turístico para fornecer serviços públicos pode desempenhar um papel muito importante e positivo na obtenção do acesso e segurança para o acesso e direito à água, higiene e saneamento;

  • ODS 7 (energia limpa e acessível): o turismo pode ajudar a reduzir gases de efeito estufa (GEE), mitigar as mudanças climáticas e contribuir para o acesso à energia, promovendo investimentos em energia limpa;

  • ODS 8 (trabalho decente e crescimento econômico): oportunidades de trabalho decente no turismo, principalmente para jovens e mulheres, e políticas que favoreçam uma melhor diversificação por meio das cadeias de valor do turismo podem melhorar os impactos socioeconômicos positivos do turismo;

  • ODS 9 (indústria, inovação e infraestrutura): o turismo pode influenciar políticas públicas voltadas para a modernização da infraestrutura, indústria e inovação, contribuindo para torná-la mais sustentável, inovadora e eficiente;

  • ODS 10 (desigualdades reduzidas): o turismo sustentável pode envolver as populações locais e todas as partes interessadas no desenvolvimento do turismo e contribuir para a renovação urbana e o desenvolvimento rural;

  • ODS 11 (cidades e comunidades sustentáveis): o turismo pode, entre outras coisas, promover a regeneração urbana e preservar o patrimônio cultural, histórico e natural;

  • ODS 12 (consumo e produção responsáveis): a adoção de modelos de consumo e produção sustentáveis (PCS) pode ajudar a monitorar os impactos do desenvolvimento sustentável para o turismo, incluindo energia, água, resíduos, biodiversidade e criação de emprego;

  • ODS 13 (ação contra a mudança global do clima): as partes interessadas do turismo podem desempenhar um papel de liderança importante (ou fundamental) no combate às mudanças climáticas, reduzindo suas pegadas de carbono;

  • ODS 14 (vida na água): o desenvolvimento do turismo pode ajudar a preservar os ecossistemas marinhos e aquáticos em geral, com o uso sustentável dos recursos desses ecossistemas e promovendo uma economia azul (em alusão ao funcionamento da vida especialmente nos oceanos – e em diálogo com a ideia corrente da “economia verde”),;

  • ODS 15 (vida terrestre): o turismo sustentável pode ajudar a conservar e preservar a biodiversidade. O que também, de forma relacionada a outros Objetivos do Desenvolvimento Sustentável, contribui no sentido de gerar desenvolvimento e renda para as comunidades locais;

  • ODS 16 (paz, justiça e instituições eficazes): o turismo pode ajudar a promover a tolerância, a compreensão multicultural e inter-religiosa, o respeito à diversidade e a paz nas sociedades pós-conflito; e

  • ODS 17 (parcerias e meios de implementação): o turismo pode fortalecer parcerias público-privadas (PPPs) e envolver todas as partes interessadas no trabalho conjunto para alcançar os ODS.
     

Para isso, o protagonismo de diferentes atores como viajantes, empresas, governos, mídia e organizações da sociedade civil é fundamental e precisa ser articulado. Se em outros tempos as iniciativas individuais poderiam ser aclamadas, no mundo hiperconectado, a necessidade de mudança sistêmica é latente. 

Neste momento, as iniciativas que enxergam o impacto abrangente do turismo no mundo conseguem inovar nos seus produtos. Serviços de transporte inovam ao gerar menos CO2 e compensar as suas emissões, empresas de hospedagem fazem parcerias com governos locais para garantir o saneamento, organizações da sociedade civil apoiam artistas e produtores locais para atender os viajantes. Nesse mesmo sentido, a mídia oferece conteúdo educativo ao turista valorizando os saberes locais e experiências autênticas. Algo que iremos abordar em outros materiais e iniciativas ligados ao Trilhando a Transformação: Desafio de Inovações em Turismo Sustentável.

Existem vários sites que oferecem serviços para viajar de forma sustentável para diferentes atores:

Existem milhares de iniciativas inovadoras pelo Brasil. O ponto comum entre cada uma diz respeito ao fato de responderem a problemas globais, mesmo propondo soluções em pequena escala. Os Desafios do Desenvolvimento Sustentável assim, em lugar de serem vistos como aspectos isolados – podem ser compreendidos como uma necessária mudança sistêmica.

O que o turismo oferece em seus cartões postais, à primeira vista, são lugares bonitos, ar puro, água tratada e alimentos de qualidade. As pessoas viajam para ver as belezas do mundo, relaxarem, serem bem tratadas. Mas, cada vez mais, quem viaja em busca dessas experiências – e quem as promove e produz – busca ir muito além disso. Junto ao contato com a natureza e ao bem-estar estão o contato com culturas diferentes, aprendizados, inovações, transformações. Quando o turismo se propõe a oferecer uma experiência única e positiva, sem dúvida está garantindo o futuro da atividade naquele local. E é exatamente na garantia da continuidade que o turismo se torna sustentável.

Enquanto nos anos 70 foram transportados de avião 310 milhões de passageiros, em 2017 esse número subiu para 3,9 bilhões. Quando a impossibilidade de recursos financeiros limitava as viagens, era possível não pensar de forma sistêmica. Porém, diante da circulação de bilhões de pessoas pelo mundo, ver o todo e entender seus impactos se torna necessário para inovação social.

Quando as viagens se transformam em lembranças pela casa, fotos na parede, novas amizades e, às vezes, acabam no altar, sonhar e investir na próxima viagem faz parte do cotidiano. Viajar é um processo de transformação pessoal e impacta diretamente no mundo. O desejo de milhares de inovadores é que esse impacto seja tão positivo para todas as partes envolvidas nesse processo quanto a memória daquela experiência.