Duas novas empreendedoras sociais brasileiras entram para a rede global da Ashoka

Ana Paula Morales e Giulliana Bianconi combatem a desinformação e a apatia em relação a crises em sistemas alimentares, clima, saúde, equidade de gênero e raça 
Fellows Ana Paula Morales e Giulliana Bianconi, reconhecidas em 2022
Fonte: Ashoka Brasil

A Ashoka tem o prazer de anunciar o reconhecimento de Ana Paula Morales e Giulliana Bianconi como as mais novas integrantes brasileiras de sua rede global de Empreendedores Sociais. Num contexto de crescentes ameaças à liberdade de imprensa e crises sociais que exigem informações e análises de qualidade, a Agência Bori e a organização de mídia Gênero e Número contribuem para o estabelecimento de novos paradigmas no jornalismo e na difusão de informações com impacto social.  

“Estamos integrando à comunidade Ashoka duas inovadoras sociais que estão ressignificando os conteúdos jornalísticos na vida cotidiana”, afirma Rafael Murta, diretor de Comunidade e Territórios Transformadores da Ashoka Brasil. “Ana Paula e Giulliana lideram iniciativas de extrema relevância para a democracia, num tempo em que a contestação científica e as fake news fazem parte das disputas políticas e sociais”. 

O trabalho de Ana Paula Morales, co-fundadora da Agência Bori, começou com o reconhecimento do abismo que separa o conhecimento gerado pela comunidade científica e o cotidiano dos cidadãos brasileiros. De acordo com o SCImago Institutions Rankings, que avalia o desempenho de instituições de ensino superior e de pesquisa, o Brasil está entre os 15 maiores produtores de estudos científicos no mundo. No entanto, apenas uma pequena parte das informações geradas pela academia brasileira chega até a população em geral. A Bori nasce em 2020 criando pontes entre cientistas, instituições de pesquisa e veículos de comunicação, com o objetivo de integrar a ciência às decisões individuais e coletivas.  

Para a empreendedora social, a ciência e o jornalismo são duas instituições fundamentais para o fortalecimento da democracia. Criar relações entre elas é essencial para reverter a desvalorização do conhecimento científico e promover debates cívicos com foco em evidências. Mas, como romper a bolha da comunidade científica e garantir que os pesquisadores compartilhem suas descobertas com toda a sociedade? 

Para chegar a esse objetivo, a Bori mapeia conteúdos científicos inéditos em sua base de dados, criada por meio de parcerias com revistas científicas, editoras, associações e pesquisadores. A partir disso, a equipe seleciona materiais que podem se tornar pauta para o jornalismo, influenciar a agenda pública e promover mudanças estruturais, nas políticas, no mercado ou em comportamentos sociais. 

A Bori tem foco em três grandes áreas temáticas: Sistemas Alimentares, Amazônia e Covid-19. A construção de pontes entre a academia e o público geral envolve a realização de cursos e imersões para jornalistas, com o aprofundamento em diferentes temáticas. A Bori também oferece formações para os pesquisadores, que querem aprimorar suas habilidades de comunicar com a imprensa, tornando-se fontes regulares de informações contextualizadas e acessíveis para quem não tem conhecimentos técnico-científicos. Além disso, a plataforma conta com um banco de contatos, que conecta jornalistas a cientistas de todo o Brasil preparados para falar sobre seus temas de estudo, cultivando comunidades comprometidas com a popularização da ciência.   

A Agência foi lançada duas semanas antes da chegada da Covid-19 no Brasil, e se tornou um ator relevante no ecossistema científico e jornalístico, incidindo sobre o enfrentamento à pandemia e suas principais repercussões na sociedade brasileira. A Bori qualificou diversos debates ligados à pandemia e a temas como ambiente e sistemas alimentares. O apoio à cobertura da pandemia da Bori foi reconhecido pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como exemplo de iniciativa inovadora em comunicação. Ana Paula, que é biomédica com especialização em jornalismo científico pelo Labjor da UNICAMP, prevê ampliar a incidência política sobre temas como sistemas alimentares e criar spinoffs da Bori para lidar com a democratização da ciência para além do jornalismo -- como um observatório com indicadores sobre a produção científica nacional. 

Para saber mais: https://abori.com.br 

"Meu propósito como empreendedora social é aproximar a ciência do jornalismo, para que informações baseadas em evidências cheguem em toda a sociedade. Acredito que um país bem informado toma melhores decisões — e que a ciência e o jornalismo têm papel fundamental nesse processo. Fazer parte da rede Ashoka é um privilégio e fortalece a minha missão."  
 
Ana Paula Morales, Agência Bori 

Giulliana Bianconi, cofundadora da Gênero e Número (Gn), produz jornalismo orientado por dados para aumentar a capacidade de mobilização cidadã. A organização de mídia, constituída em 2016, fornece evidências das desigualdades de gênero e raça aos tomadores de decisão públicos e privados, assim como trabalha em sinergia com uma ampla rede de jornalistas da grande mídia, redes e organizações cívicas que capilarizam as informações. O conteúdo é compartilhado através de plataformas digitais em linguagem acessível, como infográficos, produções audiovisuais, reportagens multimídia e relatórios, sempre sob uma licença aberta para ser facilmente reproduzido. 

“A indisponibilidade de dados sobre gênero dificulta a construção de políticas para o enfrentamento de injustiças, intolerância e violência contra mulheres e a comunidade LGBTQIA+, sobretudo em suas interseções com raça”, comenta Giulliana. Para ela é impossível ser indiferente a um Brasil que lidera o ranking da homofobia no mundo, tendo registrado mais de 40% de todos os assassinatos de pessoas transgênero de 2008 a 2021, de acordo com os dados da organização Trangender Europe.  

Além de tratar e analisar dados públicos, a Gn trabalha com uma rede de parceiros que fazem pesquisas originais, reforçando sua capacidade de mostrar questões relevantes e engajar comunidades. Durante a pandemia, a Gn reuniu informações inéditas sobre a vida de mulheres, pessoas negras e comunidades LGBTQIA+ em parceria com o Data Labe da Redes da Maré. As informações coletadas foram utilizadas em mais de 50 publicações para alertar autoridades, mobilizar doações e orientar políticas públicas de mitigação dos impactos da pandemia.  

Para promover mudanças no setor privado, a Gn lançou recentemente a ferramenta Hub GN que faz diagnósticos da diversidade de gênero e raça para empresas e treina equipes em equidade e inclusão. A credibilidade de Giulliana e a capacidade de colocar múltiplos atores pra conversar, permitiu que a Gn lançasse o projeto Reino Sagrado da Desinformação, em 2019, que combina pesquisa aplicada e análise de rede para explicar o fenômeno da ideologia de gênero no Brasil, levando em conta as conexões entre mídia, igreja e política nos últimos 30 anos. O projeto permitiu que influenciadores abordassem essa questão delicada de forma fundamentada e convincente, aumentando a qualidade da cobertura jornalística.

Neste ano, a Gn amplia a lente de gênero sobre o debate político e fornece informações sobre subrepresentação feminina nas instituições políticas, a fim de tornar o problema mais visível para a sociedade. Jornalista, com passagens pelo Diário de Pernambuco e a Folha de S.Paulo, Giulliana se deu conta do real potencial de usar dados e tecnologia para promover o engajamento cívico quando fez um curso sobre visualização de dados no jornal britânico, The Guardian. Dali nasce a Gn, pautada pela diversidade e a compreensão de que o jornalismo precisa ser plural e amplificar a voz da diversidade de gênero, raça e culturas, com seus desafios e suas potencialidades, para promover uma convivência construtiva e saudável. 

Para saber mais: generonumero.media 

"Apesar do aumento vertiginoso de canais e ferramentas de comunicação, as tecnologias podem facilmente reforçar preconceitos ao bombardearem as pessoas com informações que validam suas percepções, valores e atitudes, dificultando o acesso a uma cobertura diversificada que amplie a visão do mundo. Nunca foi tão importante fortalecer a cobertura com dados sobre os problemas enfrentados por mulheres, LGBTQIA+ e pessoas negras para facilitar a disseminação de informações entre grupos que pensam diferente. Esse é um dos desafios que nos move na Gênero e Número.”   
 
Giulliana Bianconi, Gênero e Número