Ana Paula Morales
Ashoka Fellow desde 2023   |   Brazil

Ana Paula Morales

Agência Bori
A ciência e o jornalismo são fundamentais para o fortalecimento da democracia e essenciais para combater a desinformação. Ao construir pontes para quebrar preconceitos e barreiras institucionais, Ana…
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Esta descrição do trabalho de Ana Paula Morales foi preparada quando Ana Paula Morales foi eleito para a Ashoka Fellowship em 2023.

Introdução

A ciência e o jornalismo são fundamentais para o fortalecimento da democracia e essenciais para combater a desinformação. Ao construir pontes para quebrar preconceitos e barreiras institucionais, Ana Paula fortalece a relação entre quem faz ciência e a população brasileira por meio da divulgação científica na mídia, estimulando uma mudança cultural na forma como a ciência é feita e percebida no Brasil.

A nova ideia

O conhecimento científico apresenta leituras de mundo baseadas no conhecimento para que decisões possam ser tomadas em benefício de toda a sociedade. No entanto, em pleno século 21, os meios digitais amplificaram a desinformação como nunca antes, e a disseminação desse conhecimento é insuficiente e inacessível à maioria da população brasileira. Ana Paula está aprimorando a cultura científica e transformando a forma como a ciência é divulgada no Brasil, conectando cientistas e suas pesquisas à imprensa nacional. Seu trabalho democratiza o acesso a dados científicos, o que combate a desinformação e muda a percepção da população sobre a ciência. Por meio da Agência Bori, primeira plataforma de compartilhamento de dados científicos para a imprensa do Brasil, Ana Paula fortalece o ecossistema de divulgação científica no país, conectando pequenos e grandes meios de comunicação, jornalistas independentes e assessorias de imprensa de instituições de pesquisa.

Ao reunir esses dois públicos fundamentais – jornalistas e pesquisadores – para fortalecer a democracia e o desenvolvimento do país, Ana Paula leva a informação científica para a sociedade, apoiando a cobertura jornalística qualificada e promovendo uma mudança estrutural na gestão e no uso da ciência. Ao ampliar o acesso da população à ciência, permite que as decisões sejam baseadas em evidências em todos os níveis da vida social, seja na esfera pessoal e cotidiana, como a adoção de práticas sustentáveis ou a escolha de se vacinar, seja na esfera pública e política, como na formulação de políticas públicas pelos governos ou na qualificação dos impactos socioambientais das empresas.

A experiência de Ana como cientista e comunicadora embasa a trajetória da Agência Bori, lançada duas semanas antes do início da pandemia de Covid-19 no Brasil e que já se tornou um ator relevante no ecossistema científico e jornalístico, com a divulgação de 446 estudos científicos inéditos para a imprensa e o engajamento direto de 600 cientistas e 2600 jornalistas. Ao identificar as demandas da relação entre cientistas e imprensa, Ana propôs uma forma de organizar e otimizar a dinâmica entre dados e fatos para produzir notícias com embasamento científico, aproximando a população da ciência, já que a imprensa é o principal mecanismo de acesso das pessoas ao conhecimento científico. Ao fortalecer um jornalismo dinâmico e construtivo, cada vez mais próximo dos diferentes campos e atores produtores de ciência, a Agência Bori também fortalece a democracia no país, pois combate as fake news e fortalece o debate público sobre decisões políticas e amplia visões críticas sobre o impacto das organizações privadas, dando ao público ferramentas de participação baseadas na ciência.

O problema

O Brasil estava entre os 15 maiores produtores de estudos científicos do mundo em 2019 (segundo o Scimago International Ranking, que é uma classificação de instituições acadêmicas e de pesquisa), especialmente nas áreas de ciências humanas, agronomia e meio ambiente. No entanto, apesar dessa produção impressionante devido a investimentos passados, o orçamento do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC) foi cortado pela metade de 2015 para 2016. A pesquisa científica no Brasil sempre dependeu do governo federal como principal fonte de financiamento, por meio de universidades e institutos e não de fontes locais; além disso, os recursos estão distribuídos de forma desigual entre as regiões, com menor concentração nas regiões Norte e Nordeste, reduzindo a diversidade na produção de conhecimento.

O trabalho de investigação também foi isolado da população em geral e sofre de falta de interesse por parte do público. Nove em cada dez brasileiros disseram não conseguir identificar uma instituição que realiza pesquisas no país (MCTIC, 2019). Mesmo quando os recursos eram significativos e garantidos para a produção de conhecimento, os departamentos de comunicação das instituições científicas promoviam intercâmbios dentro da academia, focados na prestação de contas do que realizavam, sem uma preocupação efetiva com a divulgação científica para a sociedade civil. Os cortes mais recentes no investimento em ciência tiveram pouca repercussão e pressão pública, ao contrário do que aconteceu com o fechamento do Ministério da Cultura em 2019, quando artistas conseguiram mobilizar a população contra os cortes feitos na área e que levaram à extinção do ministério.

Esse cenário de distanciamento entre a população em geral e a comunidade científica também revela a falta de acesso à educação. De acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua, a estimativa do nível de escolaridade das pessoas com 25 anos ou mais em 2019 mostra que aproximadamente 38% dessa população sequer concluiu o ensino fundamental. Isso adiciona camadas de complexidade e desafios à comunicação de ciência, que deve projetar uma comunicação acessível a todos.

Paralelamente, cresce o volume e a disseminação de desinformação que questiona e desvaloriza o conhecimento baseado na observação sistemática de fenômenos com rigorosa base metodológica, o que tem se mostrado muito preocupante durante a pandemia da Covid-19. Durante o combate à pandemia, o governo Bolsonaro usou discursos negacionistas e baseou políticas públicas em informações falsas, como no caso da compra de medicamentos para "tratamento precoce da Covid-19" que não tinham comprovação científica de eficácia. Essa indiferença ao conhecimento científico nas esferas pública e política levou a uma queda na taxa de vacinação de 73% para 59% de 2019 para 2021, especialmente em crianças. A ciência é cada vez menos usada para apoiar decisões e comportamentos privados e públicos.

A imprensa, por sua vez, que poderia desempenhar o papel de elo entre a produção do conhecimento e a sociedade, não sabe onde e como buscar tais informações. O jornalismo científico no Brasil ainda é relativamente recente. Além da dificuldade de acesso a estudos científicos nacionais (o que muitas vezes leva os jornalistas a se apoiarem principalmente em fontes internacionais), os jornalistas em geral não estão familiarizados com o texto científico ou com o ambiente acadêmico para buscar fontes confiáveis. No caso de jornalistas em início de carreira ou que não acompanham a ciência de perto, a dificuldade é ainda maior.

Dessa forma, estabelece-se um ciclo vicioso em que a falta de articulação entre conhecimento e sociedade alimenta uma cultura de pouca participação social em relação à produção científica. Com poucos dados para decisões baseadas em dados no âmbito privado e coletivo, aumenta a distância entre a população e uma cultura baseada em informações qualificadas.

A estratégia

Para interromper o ciclo perverso que desvaloriza a ciência, alimenta a desinformação e enfraquece a tomada de decisão informada, Ana Paula cocriou a primeira plataforma brasileira voltada para conectar a ciência e a imprensa nacional: a Agência Bori. Percebendo a imprensa como a principal aliada na mudança da forma como a ciência é feita e utilizada no Brasil, a iniciativa estabelece uma ponte entre a produção de conhecimento e os jornalistas, reunindo conteúdo científico, fazendo curadoria de temas relevantes com releases, indicando fontes e seus contatos, oferecendo pesquisas inéditas à imprensa e realizando pesquisas temáticas próprias. Ana Paula acredita no jornalismo como método de divulgação e ferramenta essencial para democratizar o acesso à ciência, fortalecendo a democracia ao trazer informações qualificadas para combater as fake news e fortalecer o debate público sobre as decisões políticas, ampliando visões críticas sobre o impacto das organizações privadas e permitindo a apropriação da ciência no cotidiano. Para transformar a cultura científica, Bori conecta diversos atores da academia e da imprensa.

A equipe de Bori escolhe pesquisas científicas inéditas que podem virar assunto para jornalistas de todo o país: 466 publicações já foram disponibilizadas pela agência. O processo de curadoria de estudos divulgados para a imprensa leva em conta a relevância jornalística do tema, além de critérios como qualidade, diversidade e, claro, as demandas e interesses da sociedade. Por meio desse processo, Ana Paula faz questão de engajar os jornalistas na comunidade, certificando-se de que eles vejam o valor no processo, pois seu trabalho se beneficia diretamente dele. As fontes são periódicos da biblioteca eletrônica SciELO, que indexa mais de 300 periódicos científicos publicados no Brasil, e cuja produção é acompanhada em tempo real pela Bori. Ana Paula também trabalha com parceiros como a ABEC (Associação Brasileira de Editores Científicos) e outras revistas científicas individuais, editoras de livros como Editora Unicamp e Editora da Fiocruz, e com cientistas e grupos de pesquisa que enviam seus trabalhos diretamente para a equipe da Bori.

Sempre pautando suas ações nas necessidades de seus dois públicos diretos, pesquisadores e jornalistas, Ana Paula vem desenvolvendo "grandes temas" que agregam trabalhos de pesquisa relevantes relacionados aos debates mais atuais, tanto no âmbito jornalístico quanto científico. Até agora, os grandes temas foram a pandemia de Covid-19, a Amazônia e os sistemas alimentares. Como esses temas são amplamente cobertos pela grande mídia, a equipe de Bori seleciona pesquisas científicas nessa área para publicar e direciona a atenção da pesquisa nessas direções para um maior engajamento do público.

Ao selecionar quais publicações divulgar, Ana Paula leva a sério os critérios de diversidade. O próprio nome da agência evidencia esse compromisso, pois é uma homenagem à cientista brasileira Carolina Bori (1924-2004), que foi pesquisadora na área de psicologia experimental e a primeira mulher presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência. Mais da metade dos estudos publicados por Bori têm porta-vozes mulheres. A agência também considera a distribuição geográfica das instituições, de modo que todas as regiões do Brasil sejam contempladas, e os estudos produzidos por centros de referência em pesquisa e universidades localizadas nos rincões do país, trazendo sempre que possível as lentes de gênero e raça dos pesquisadores. Em 2021, os estudos publicados abrangeram institutos no Brasil na seguinte proporção: Sudeste (63%), Nordeste (18,6%), Sul (12,7%), Centro-Oeste (9,3%) e Norte (4,2%); em 2022, houve um aumento de 12,4% de estudos na região Norte devido à inauguração da área temática Amazônia.

Além de sua base de dados, a plataforma da Bori contratou 600 pesquisadores que registraram suas informações de contato para serem consultados por jornalistas como fontes confiáveis em diversas áreas temáticas. A colaboração inclui o compartilhamento de trabalhos científicos inéditos e artigos de opinião. Os cientistas também podem acessar o treinamento para comunicar suas pesquisas na mídia, qualificar o trabalho jornalístico em seus respectivos temas de pesquisa e tornar-se especialistas mais acessíveis em suas áreas. Essas relações são constantemente estabelecidas e fortalecidas pela equipe Bori.

Ana Paula reconhece que, ao mesmo tempo em que os cientistas precisam aprender melhores habilidades de comunicação, os jornalistas também precisam se tornar mais proficientes na cobertura de temas científicos. Tendo experimentado os dois mundos, ela sabia que não bastava disponibilizar pesquisas baseadas em pesquisas científicas para a cobertura jornalística. Em vez disso, ela projetou e implementou cursos de treinamento de imersão para jornalistas para prepará-los para cobrir tópicos baseados em ciência. O objetivo é apresentar aos jornalistas o material científico, tornando-o mais acessível e facilitando sua posterior divulgação para públicos diversos. Já são 2600 jornalistas cadastrados na plataforma online da Bori, que estão acessando pesquisas inéditas e um banco de dados de especialistas científicos em diversas áreas de diversas instituições em diferentes partes do Brasil. A Bori também usa sua plataforma para conscientizar sobre temas científicos que ainda não estão no radar da grande imprensa.

Com base nesses esforços, a Agência Bori firmou-se como vitrine da ciência nacional entre jornalistas e veículos de imprensa e como referência na divulgação da ciência entre pesquisadores e instituições científicas do país. Todos os estudos divulgados até agora tiveram cobertura significativa da imprensa. Vários deles tiveram mais de 60 publicações, incluindo a mídia internacional. O trabalho de Ana Paula influenciou diversos debates relacionados à saúde pública, meio ambiente e sistemas alimentares em conexão com a pandemia e em parceria com outros veículos de comunicação independentes, como o Jornal Nexo e o jornal Joio e o Trigo.

Lançado formalmente semanas antes da chegada da pandemia de Covid-19 ao Brasil, a Bori rapidamente se consolidou no campo do jornalismo científico, tanto entre cientistas e suas instituições, quanto entre jornalistas e imprensa. Mostrou-se rápida e eficiente no combate à pandemia e à desinformação, com o InfoVacina, programa de mentoria jornalística sobre vacinação apoiado pelo Instituto Sabin de Vacinas que já teve duas edições em 2021 e 2022. 65 jornalistas de todas as regiões do Brasil – de profissionais experientes de mídia a jornalistas em início de carreira e estudantes de jornalismo – tiveram a oportunidade de se capacitar e produzir, com o aprendizado dessa mentoria, reportagens sobre vacinas e imunização. Este projeto foi a primeira iniciativa no Brasil para apoiar jornalistas generalizados na cobertura de informações sobre a COVID-19. Com a iniciativa, Ana Paula e a Agência Bori foram reconhecidas pela OMS por apoiarem a cobertura jornalística da Covid-19.

Com o início da pandemia, jornalistas de todo o país estavam ansiosos para reportar sobre a COVID-19 de forma precisa e compreensível. Como resultado, 1700 jornalistas registrados em todo o país usaram o site do projeto diariamente no primeiro ano de operação da Bori. Um artigo científico com explicação em linguagem simples é compartilhado com os jornalistas a cada dois dias. O site do projeto teve uma média de 30.555 visualizações mensais e a conta do projeto no Twitter tem mais de 12 mil seguidores, incluindo jornalistas brasileiros renomados. Os cientistas de pequenas universidades sem experiência prévia em relações com a mídia se tornaram fontes confiáveis para veículos de imprensa brasileiros devido à lista de contatos de cientistas fornecida pelo projeto. Além disso, os estudos divulgados sobre o impacto da pandemia nos trabalhadores da saúde e na economia foram citados por veículos de imprensa de todo o país. Além disso, estudos divulgados pela Bori embasaram a Comissão Parlamentar de Inquérito da Covid-19 e decisões de conselhos e secretarias de saúde.

Além da negligência política para superar a crise sanitária instituída pela pandemia da Covid-19, o governo Bolsonaro também colocou os investimentos públicos em ciência em posição crítica. Como resposta a esse descaso, o Instituto Serrapilheira iniciou a campanha #CiênciaNasEleições (em inglês #ScienceintheElections) para demonstrar o quanto é fundamental inserir a ciência no debate político e conectá-la aos temas mais amplos que interessam ao público. A Agência Bori foi peça-chave na campanha, pois fez parceria com o Serrapilheira para diversificar as vozes e os veículos de comunicação utilizados para espalhar essa mensagem. A campanha consistia em colunistas abrindo seus espaços em seu veículo de comunicação para que cientistas escrevessem sobre o papel da ciência na reconstrução do Brasil. A campanha durou todo o mês de julho de 2022 e, devido à participação da Bori, houve cerca de 2 publicações por dia do mês, totalizando 117 textos escritos espalhados por mais de 20 veículos de comunicação em 11 estados. Foram abordados diversos temas, como políticas públicas, economia, educação, saúde, inclusão social, esporte, turismo, Amazônia e desinformação. O trabalho da Bori também influenciou a diversidade dos cientistas que colaboraram com a iniciativa, envolvendo um total de 12 mulheres e 5 homens especialistas em áreas como ecologia, oceanografia, paleontologia, manejo, epidemiologia e nutrição.

A Bori também influenciou questões de longa data. Por exemplo, uma pesquisa conjunta da Universidade Federal da Bahia e da Unicamp constatou que a participação política das mulheres leva a um melhor acesso à saúde pública. O estudo chamou a atenção para a relação entre o aumento das taxas de mortalidade infantil, onde menos mulheres ocupam cargos de liderança política. Esse trabalho foi publicado na revista Assuntos de Saúde, promovida pela Bori, e foi fundamental para a inclusão da participação política das mulheres na pauta da deputada federal Tábata Amaral (PDT-SP). Em outro caso, após divulgar pesquisas sobre como um método de extração de gás estava causando tremores sísmicos em Manaus, a cobertura de imprensa chamou a atenção da sociedade e do governo federal para o problema, o que acabou levando a uma mudança na regulamentação da extração de gás pelo Ministério de Minas e Energia. Como resultado, a relevância da Bori foi reconhecida pelo Google, que selecionou a Bori como uma das dez iniciativas do jornalismo brasileiro para participar da primeira edição do Startup Lab da Google News Initiative.

Ana Paula pretende abrir novas frentes para as atividades da Bori. Eles estão trabalhando no projeto do Observatório Nacional de Ciência (ou "cienciômetro" da Bori), uma estrutura para mapear a ciência brasileira, desta vez com o objetivo de produzir dados, indicadores e informações analisadas. A proposta é desenvolver, em 2023, uma seção (um dashboard) que traga números em tempo real da ciência brasileira, por exemplo, o número de artigos científicos por área de conhecimento ou por temas específicos, além de produzir sistematicamente relatórios analisando essa produção. A partir disso, Ana Paula espera usar os dados produzidos para aumentar o alcance da Bori e entregar informações com evidências científicas diretamente para outros stakeholders e orientar a tomada de decisões e políticas públicas.

Ana Paula está trabalhando essa empreitada no programa de mentoria da Microsoft, chamado Microsoft para Impacto Positivo (Leadership for Positive Impact), com foco em empreendedoras e empreendedores Ashoka. Agora, a Bori começa a desenvolver um novo sistema, que organiza as informações sobre a produção científica nacional em um banco de dados inteligente, permitindo uma curadoria mais precisa dos estudos a serem divulgados à sociedade pela imprensa, ampliando o número de materiais a serem divulgados. Além disso, possibilitará fornecer um banco de evidências científicas a diferentes stakeholders e analisar o impacto desses trabalhos científicos na imprensa e na tomada de decisões. A proposta de um sistema para otimizar o processo de mapeamento e curadoria de estudos científicos brasileiros por meio de automação, aplicação de ciência de dados e inteligência artificial foi idealizada no Microsoft Global Hackathon 2022 (o maior hackathon privado do mundo). O projeto conquistou o primeiro lugar na categoria Hack for Positive Impact Executive Challenge da competição, entre mais de nove mil projetos participantes.

A pessoa

Ana Paula cresceu no interior de São Paulo, influenciada por famílias com diferentes capitais culturais e sociais. Por um lado, o lado paterno da família estava ligado à agricultura e, por outro, o lado materno vinha de uma origem mais urbana e empresarial. Mesmo com a perda precoce da mãe, aos 4 anos, Ana Paula sempre guardou a lembrança da mãe dando aulas gratuitas em sua casa para jovens com histórico de uso de drogas, enquanto o pai continuava apoiando a educação dela e da irmã mais velha.

A ação social, inspirada em sua mãe, nunca deixou de existir. Além de dar aulas extracurriculares a crianças e pré-universitários, foi sempre curiosa, o que a influenciou a dedicar-se aos estudos e a liderar iniciativas de intervenção social na escola e na universidade.

Essa curiosidade crescente e o compromisso social a fizeram considerar uma carreira no jornalismo ou na biologia. Ana Paula queria entender como ocorriam os fenômenos naturais e sociais. Decidiu, então, estudar biomedicina, o que permitiu a Ana usar a ciência para causas maiores. Em São Paulo, fez parte de projetos científicos de ponta que analisaram o impacto do cálcio em doenças degenerativas e câncer, os quais a levaram a estudar no exterior durante o mestrado (na Carolina do Sul, nos Estados Unidos, e em Manchester, na Inglaterra). Mesmo com uma carreira promissora e um convite para fazer doutorado na Inglaterra, Ana Paula queria dar uma contribuição ainda mais significativa para a sociedade.

Quando percebeu que o que desenvolvia em pesquisa poderia ser desenvolvido por outras pessoas, decidiu mudar de rumo e se dedicar à conexão entre ciência e pessoas para promover o acesso à ciência e influenciar decisões. Assim, trocou sua promissora vida em biomedicina e um emprego no Grupo Fleury por uma bolsa de jornalismo científico no Labjor da Unicamp (centro de referência, no país e na América Latina, para formação e estudos em divulgação científica e cultural). Essa oportunidade aproximou Ana Paula da pesquisa e análise da percepção pública da ciência e aprofundou seu interesse pelo tema. Por sua experiência, competência científica e compromisso com a causa, foi convidada a atuar no Governo do Estado de São Paulo, onde participou ativamente da criação da UNIVESP (Universidade Virtual do Estado de São Paulo) para democratizar o acesso ao conhecimento e criar pontes entre a academia e a sociedade.

Reconhecendo as limitações de trabalhar para o Governo, decidiu que era tempo de explorar toda a experiência que tinha acumulado, tanto na ciência como na comunicação. Em parceria com uma amiga, que estava em momento semelhante de sua carreira profissional, elas usaram uma chamada pública da FAPESP (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo) para criar a tecnologia de banco de dados sobre a produção científica que hoje se tornou a Agência Bori.

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