Bill Drayton: ‘Jovem deve ter habilidade de mudar sua realidade’
Bill Drayton: ‘Jovem deve ter habilidade de mudar sua realidade’ MAY 19, 2019 Drayton: "Empregadores precisam entender que, para que eles e suas companhias tenham futuro, têm de ajudar seus funcionários a mudar". Foto: Divulgação RIO - Fundador, nos anos 1980, da Ashoka — organização americana que apoia líderes sociais no mundo—, Bill Drayton defende o estímulo ao empreendedorismo entre adolescentes e jovens para promover transformações socioeconômicas capazes de amenizar o crescimento do que ele chama de nova desigualdade. Em busca de talentos no Brasil, ele acredita que jovens preparados para criar soluções para problemas em suas escolas, famílias ou comunidades também saberão disputar um lugar ao sol no atual mercado de trabalho, rompendo barreiras que, na visão dele, são cada vez maiores. O empreendedorismo social pode impulsionar a economia? Sim, promovendo impacto social. A habilidade mais importante nos dias de hoje é a capacidade de atuar como um agente de transformação, não importa a área. Entender um problema, imaginar uma solução, montar um time e promover a mudança desejada. É o fim do trabalho repetitivo. Por que a distribuição de renda está piorando? Por que vemos a súbita expansão de políticas do tipo “nós contra eles”? A antiga maneira de trabalhar não funciona mais. Temos os que dominam e os que não dominam o novo jogo. Muitos problemas socioeconômicos vêm do fato de muitas pessoas estarem fora desse jogo. A demanda por elas vai desaparecer. As empresas que não mudarem também vão sumir. E é isso que está tornando a distribuição de renda cada vez pior. É uma nova desigualdade. Como ajudar quem está fora? O que está se dizendo a esse grupo é: “não precisamos de vocês. Seus filhos também não terão futuro”. Eles ficam deprimidos e com muito ódio. Isso abre espaço para discursos demagógicos. E divide a sociedade entre os que vão bem e os que estão fora. Os empreendedores sociais estão atacando essa nova desigualdade. Para isso, adolescentes e jovens têm de desenvolver novas habilidades. Não é mais possível resolver problemas da juventude ou o desemprego ensinando só um ofício às pessoas. É algo que deve começar cedo? Todo adolescente tem de saber que é um agente de transformação. Desenvolver a habilidade de mudar sua realidade. Quando um jovem tem alguma iniciativa na adolescência, tem quatro vezes mais chances de se tornar um executivo em alto cargo de liderança e cinco vezes mais chances de se tornar empreendedor. É estimativa conservadora, podendo chegar ao dobro disso. Se você comanda uma companhia em São Paulo, mas a cidade não está desenvolvendo um sistema educacional que ofereça essa experiência às crianças, como terá essa nova força de trabalho no futuro? O que faz a Ashoka? O foco são crianças em risco social? Trabalhamos com crianças em situação adversa, mas todas são o foco. Neste fim de semana, estamos lançando no Brasil o painel Jovens Transformadores Ashoka. Vamos selecionar dez jovens, de 13 a 20 anos, para entrarem numa rede global de empreendedores sociais. Há pouco tempo, uma menina de 12 anos me contou que chorava na escola quando o irmão dela, que é autista, era maltratado. Mas tinha resolvido isso. Ela reuniu estudantes para discutir por que um aluno com necessidades especiais não era bem tratado, e acharam soluções. Ela mudou a forma como os estudantes convivem com crianças com deficiências. Não vai parar mais. Em dez ou 20 anos, fará grande diferença social. Empresas também podem estimular esse processo? Empregadores precisam entender que, para que eles e suas companhias tenham futuro, têm de ajudar seus funcionários a mudar. Escolas, universidades e outras entidades também podem fazer isso. A mudança das crianças transforma os adultos. São pessoas que começarão novos negócios e ajudarão as empresas existentes porque percebem o ambiente, enxergam mudanças e avançam sempre. O desemprego cresce no Brasil, especialmente entre jovens. É que os salários estão subindo no topo, onde as pessoas dominam o novo jogo, e caindo na base. Lá em cima, não há problema de emprego. Como será em dez anos se só 5% a 10% da população tiverem habilidades para atuar num ambiente que pede mais interação e está em transformação?
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