Elisa Costa e Adriana Barbosa são as novas empreendedoras sociais Ashoka

Conheça a história de duas mulheres poderosas que estão provocando transformações sociais na sociedade e que carregam no sangue e na pele histórias de luta de gerações.
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Source: Empreendedoras

Elisa Costa, ativista, fundadora e presidente da Associação Internacional Maylê Sara Kali (AMSK/Brasil) e Adriana Barbosa, criadora da Feira Preta, iniciativa que busca o empoderamento e desenvolvimento econômico das comunidades afrodescendentes no país, são as novas empreendedoras sociais da rede Ashoka. Confira aqui o vídeo na íntegra da cerimônia de celebração das novas integrantes da rede, realizada no dia 09 de novembro, no evento ColaborAmérica (RJ).

 

“O feminismo Romani tem dado uma nova versão a realidade dessas mulheres”

 

Elisa

 

Para uma Romi (mulher cigana) nascer dentro da etnia não é uma opção, não se escolhe ser romi, mas se pode escolher passar anônima pela vida. A realidade das construções familiares e seus desdobramentos é uma enorme colcha de retalhos e no Brasil isso se amplia muito. Elisa descobriu muitas pessoas da etnia - políticos, funcionários públicos, artistas que preferem o resguardo da sua identidade. Formou-se em Medicina Tradicional Chinesa no Instituto Yang de Terapias Alternativas/1990 - da Escola de Chien. Durante sua estadia na Itália ela conheceu o outro extremo da população Roma: as crianças nos acampamentos que são carimbadas pela política e pela polícia desde os quatro anos de idade.

 

 

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Elisa se formou em 1990 e até 2005 atendeu em clínicas populares, acampamentos e itinerantes, principalmente em Minas, Goiás e São Paulo com medicina tradicional em locais bem pobres, e depois se restabelecendo em Brasília até 2016. Assim ela foi criando vínculos e conhecendo os Romani do Brasil todo, acolhendo demandas e construindo caminhos. Elisa quer incluir a população romani nas políticas públicas brasileiras. Por isso ela e um grupo de mulheres criaram em 2009 a Associação Internacional Maylê Sara Kali (AMSK/Brasil), uma das únicas organizações ciganas no mundo liderada por mulheres nas suas principais áreas. Áreas como saúde, infância, educação/formação, gênero e trabalho são prioridades para as mulheres da AMSK/Brasil.

 

 

 

“Eu me tornei negra na medida em que recebia processos de discriminação”

 

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Adriana é uma empreendedora em série. Ela é uma mente pulsante e incansável. No início da adolescência Adriana Barbosa se deparou com uma das faces mais cruéis da sociedade brasileira: o racismo. Vinda de uma família matriarcal, ela vivia com a bisavó, a avó, a mãe e os dois irmãos em uma casa em um bairro de classe média de São Paulo. A casa era propriedade da avó e tinha sido comprada com a ajuda de seus patrões, com quem ela trabalhou como empregada doméstica a vida toda. Pela localização privilegiada, mesmo estudando em escola pública, a presença de alunos negros, como Adriana, era minoria. O racismo fez de Adriana uma pessoa tímida. A família matriarcal, uma grande batalhadora como as mulheres que a educaram.

 

Adriana começou a trabalhar aos 15, mesma época que conheceu referências da cultura afroamericana, como Spike Lee e Malcon-X. Encontrou nas festas de black music que estavam emergindo na cidade uma oportunidade de se conectar com outras pessoas negras que ela não via no dia-a-dia do seu bairro e de construir e de fortalecer sua identidade. Aos 19, aprendeu a dirigir para trabalhar em uma rádio no transporte de cantores negros para participar de programas de TV. Quando perdeu o emprego, decidiu empreender. Adriana juntou suas roupas e montou um brechó para vender em feiras de rua.  Desafiou o status quo da sociedade paulista ao expor suas roupas em um bairro prioritariamente de brancos. Em um evento de venda de roupas houve um arrastão, perdeu parte da mercadoria. Mas não desistiu. Empreendeu novamente. Com uma amiga decidiu montar uma feira na qual os jovens negros poderiam produzir e expor. Foi assim que nasceu a Feira Preta.

Adriana

 

Em sua trajetória, ela enfrentou vários desafios. Resistência de moradores da região, dívidas, preconceito. Resiliente, Adriana nunca desistiu. Ela é hoje a referência do afroempreendedorismo brasileiro, reconhecida em 2017 como uma das 50 pessoas negras mais influentes do mundo pela Fundação Obama.