Cobertura do evento sobre Criatividade: outros mundos possíveis realizado pelo programa Escolas Transformadoras
Os desafios da sociedade moderna exigem novas soluções. As desigualdades que enfrentamos hoje não podem ser tratadas da mesma maneira que no século anterior. Competências como empatia cognitiva, criatividade, protagonismo e trabalho em equipe de equipes são necessárias para tratar dos problemas atuais. E para que nossos jovens desenvolvam essas habilidades a Ashoka busca desenvolver projetos e programas para construir uma sociedade na qual sejamos todos agentes de transformação.
É nesse contexto que surgiu o Debate sobre Criatividade: outros mundos possíveis e as rodas de conversa que aconteceram nos dias 20, 21 e 22 de agosto. O evento deu seguimento a uma série de diálogos iniciada em 2016, um ano após a implementação do programa Escolas Transformadoras no Brasil - projeto criado pela Ashoka e co-realizado pelo Instituto Alana. As duas últimas edições desse diálogo trataram das outras competências inerentes ao desenvolvimento de jovens transformadores e foram compiladas em duas publicações disponíveis para download: Empatia (2016) e Protagonismo (2017).
Nesta última edição do debate, foram três dias de diálogos para discutir como a criatividade pode auxiliar no processo de desenvolvimento de crianças e jovens para transformá-los em agentes de transformação. Você pode conferir a íntegra do debate aqui. Estiveram presentes representantes das 23 Escolas Transformadoras no Brasil e diversos atores da comunidade ativadora do programa - além de empreendedoras e empreendedores da Ashoka.
O que é criatividade para você?
Diane Sousa, empreendedora social recém reconhecida pela Ashoka, foi a mediadora do evento público realizado no dia 20 de agosto sobre Criatividade: Outros Mundo possíveis. Criada pela avó em uma cidade do interior do Maranhão, Diane teve o privilégio de estar rodeada de jovens motivados a empreender e desenvolver suas próprias ideias desde os 13 anos. É a partir dessa experiência de educação inovadora na adolescência que a maranhense de 25 anos coordena a Incubadora de Esporte e Cidadania, uma organização que impulsiona jovens em São Luís para liderar iniciativas de esporte e lazer na região.
“Fui criada pela minha avó e sempre tivémos o pensamento muito claro de que a nossa missão era transformar escassez em abundância. O mundo para o qual ela me criou para me desenvolver não é o mundo no qual ela foi criada para se desenvolver na minha idade. Um dos elementos edificantes para ter uma pensamento criativo é ter um pensamento, o corpo e a mente livre. E se hoje eu tenho isso, essa é uma conquista que aconteceu por uma racionalidade e resistência da minha avó e que me permite estar aqui hoje”.
É dessa maneira que a jovem empreendedora dá início ao Debate sobre Criatividade: outros mundos possíveis, evento que aconteceu no dia 20 de agosto no Itaú Cultural e foi co-realizado pelo Instituto Alana. A partir das possibilidades do pensamento criativo, Diane direciona provocações aos outros participantes da mesa: Alemberg Quindins, músico, escritor , empreendedor da Ashoka e criador da Fundação Casa Grande, no Cariri, e Viviane Mosé, poetisa e socióloga que enriqueceu o debate com reflexões profundas sobre a criatividade.
A criatividade vem do vazio
Alemberg Quindins acredita que é do vazio que surge a criatividade. Todas as iniciativas dentro da Fundação Casa Grande, localizada no Cariri, estão alinhadas à esse vazio. A organização é uma escola que tem como missão a formação educacional de crianças e jovens protagonistas em gestão cultural. Quindins entende que a ausência que cria oportunidades para a criatividade. “Quando pequeno já fiz uma banda de lata, criei uma editora de cordéis sozinho e inventei cinema com a ausência de tudo que não tinha ao meu redor”. Hoje, a Fundação é coordenada e gerenciada por jovens e crianças do Cariri - para as quais Alemberg literalmente entregou as chaves da casa.
Essa ausência, ao contrário do que pode parecer é, portanto, espaço fértil e positivo para a criatividade se desenvolver. Viviane Mosé, socióloga que já foi indicada a dois prêmios Jabuti, resgata a criatividade como um valor inerente ao ser humano. “Costumamos falar como a criatividade fosse um adereço, mas na verdade ela é o que caracteriza o humano, ela é própria do que é humano. E é importante deixar o vazio existir para deixar que as pessoas sejam criativas e que, assim, sejam movidas por algo que realmente importa a elas”.
Para Vivian Mosé, estamos vivendo um momento político no qual todos temos que usar a criatividade para solucionar antigos problemas com uma perspectiva mais inovadora e colaborativa.“Se sabemos que nascemos, vivemos e morremos frágeis e se todos somos iguais, precisamos refazer acordos e andar juntos, valorizando o espaço de cada um e tendo noção de que vivemos em coletividade”, finaliza a poetisa. Para Mosé, serpa por meio do afeto e da empatia, e não pelo enfileiramento de jovens com base em suas notas, que poderemos construir uma sociedade de jovens transformadores.
Perspectivas para o futuro
O objetivo do evento é que, ao final de um ano, seja produzida uma publicação com base nos diálogos que foram trazidos sobre criatividade e que será lançada em diversas regiões do Brasil. Além disso, subprodutos desse encontro são a reflexão conjunta, a criação de um espaço para pensamento criativo colaborativo e o desenvolvimento de um ambiente com pessoas empenhadas em criar e agir de forma inovadora. Um grupo de pessoas que, por definição da jovem empreendedora, Diane Sousa, “precisa se vestir do abraço do outro” para manter-se firme na missão de ser uma comunidade transformadora.